quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SOU GOSTOSA E ASSUMO

Nem quando tinha 10 anos entrei numa calça jeans 38. Jamais deixei de ter pânico praiano no final da primavera. Mas, depois de muita terapia e chuchu refogado, decidi: sou muito mais gostosa do que essas esqueléticas posando de cabide maquiado em capa de revista de moda. Porque, na verdade, gostosura não é ter 1,77m e 50kg nem 300ml de silicone, lipoescultura ou botox até na pupila. Ser gostosa é decisão. Decida que seus culotes, apesar de não serem a coisa mais linda do mundo, são facilmente extermináveis. Pode fazer um tratamento estético e acabar  com eles.

Decidir dar um tapa na cabeça do meu marido  sempre que ele me chamar de “gorda”, "mocréia" “estado deplorável” ou qualquer coisa  em  que me cause ódio: Sou e permito ser  a única pessoa que pode xingar a mim mesma, é bom que fique claro. 
Burrice é dar valor exagerado ao que é, na essência, detalhe. Tragédia é a fome na África, Terromoto no Haiti e por ai vai, e não a falta de elastina no meu glúteo direito ou barriga grande!

Decidir chutar pra estratosfera padrões de beleza: os peitos da Gisele Bündchen são dela, não meus. A barriga sarada da dançarina de axé é dela, não minha. E, na real, se ser padrão fosse tão bacana, essa mulherada não viveria neurótica, estressada, com bulimia, anorexia, disfunção renal, cerebral, hemorroidal... No fim, todas nós sofremos de prisão de ventre.

Decidir que sou, e o que existe de melhor em mim, não se resume naqueles 2 ou 3 ou 10kg de banha que insistem em não sair do meu quadril. Quem acha o contrário deve ser posto de quarentena na sua vida. E se for você que pensa assim? De duas, uma: Freud ou Jung. Não, três: pode ser Gestalpo, também.

Alegria e auto-estima não vêm de brinde com a lipoaspiração. Lembre-se de que o embrulho do presente acaba indo pro lixo. Então, para facilitar minha existência, decidi que sou GOSTOSA. Compro roupas que valorizam o que tenho de bom (peitões, no caso) e não tento me vestir como um catálogo da Dior: o máximo que conseguiria seria parecer um espantalho fashion louco. Não me abalo mais com comentários testosteronentos e babões diante de corpos fenomenais: não dediquei a minha vida a ter um daqueles, por isso não posso querer ter um daqueles (simples, não?). Aprendi que o prazer que um jantar com vinho e risoto de camarão com gorgonzola me proporciona é infinitamente maior do que poder rebolar ferozmente a buzanfa no show de qualquer pagode por ai.

Hoje, sou gostosa pacas. Mas continuo odiando qualquer mulher que fica linda de morrer num biquíni. Eu decidi ser gostosa, mas não virei a Irmã Dulce. Ainda bem: decidi também que ser boazinha não combina comigo.






(Adaptado por mim do texto Ailin Aleixo - Revista Quem)

2 comentários:

  1. Ai ai.. isso me preocupa..
    Vamos separar um pouco as coisas:
    auto-estima, comodismo e desleixo com a saúde são coisas que não se confundem, apesar da fronteira entre eles ser muito tênue.
    bjs

    ResponderExcluir
  2. Concordo com a tênuidade, mas isso nao implica o fato de eu me aceitar assim "puramente gostosa" (rsrsr)

    ResponderExcluir